Deixem a liberdade fluirRoberto Barbosa

O que na ditadura militar o Brasil conheceu e repudiou como Ato Institucional, na Uenf está se notabilizando como sindicância. Este expediente tornou-se uma forma de coagir os críticos das medidas administrativas de uma reitoria ineficiente, desgastada, que já não tem a mínima condição de dialogar com os docentes.

Nos últimos dias, o instrumento de sindicância ou coação, voltou-se contra o professor Marcos Pedlowski . O ato administrativo foi iniciado (pasmem!) por conta de um editorial publicado no jornal da Aduenf.

A Universidade que deveria ser um espaço livre, aberto a manifestação do pensamento de todas as correntes, rendeu-se a uma medida arbitrária para sufocar a liberdade. O pior de tudo é que a medida representa uma agressão à Constituição Federal.

A reação emergiu cega pela fúria. Tentou responsabilizar o professor por um texto pelo qual não responde individualmente. Para quem entende o mínimo de norma jornalística, um editorial é de inteira responsabilidade da empresa ou entidade que está descrita no expediente da publicação. Portanto, neste caso específico, a responsabilidade cabe a diretoria da Aduenf e não apenas ao professor que foi emparedado pelos inquisidores.

O reacionarismo saiu do armário na Uenf e confundiu alhos com bugalhos. Tanto açodamento é compreensível. Diante de uma série de questionamentos que pairam sobre obras inacabadas no campus e com valores suspeitos, a reitoria da Universidade está cada vez mais avessa a liberdade de pensamento. Mas terá que aprender a conviver com as controvérsias, porque alunos e professores estão cada vez menos propensos a se calar diante do que Nelson Rodrigues definiria como óbvio ululante.

Os professores estão em campanha salarial. Entre os meios que utilizam para sensibilizar as autoridades, constam formas que desagradam. Faz parte do jogo democrático e este jogo não se vence com perseguições. Como ex-secretário de Comunicação do Município de Campos, ex-presidente do Centro de Informações Dados de Campos (Cidac) e consultor atualmente na área de comunicação de vários gestores, certifico que a melhor maneira de aparar essas arestas é com diálogo franco e aberto.

É preciso minimizar o drama de uma categoria que clama por aumento há mais de 10 anos e não martirizá-la com as mais mesquinhas reações. Aos inquisidores que apelam às sindicâncias, vale destacar que eles passam e a instituição, seus professores e alunos permanecem. Na condição de jornalista que assistiu o nascimento desta instituição, suplico: deixem a liberdade de pensamento fluir. Deixem a democracia prosperar. O arbítrio pode ser um companheiro sedutor, mas será uma péssima referência em qualquer história.

* Artigo publicado na última edição do jornal da Associação dos Docentes da Uenf (Aduenf)

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