O governo Cabral precisa honrar seu compromisso com os docentes da UENF

As negociações de alto nível com o Governo do Estado, visando reverter a crise que se abateu na UENF com o esvaziamento salarial de seus docentes, chegaram ao fim com o término do calendário eleitoral: eleito em primeiro turno por larga margem, o Governador parece se sentir desobrigado de resolver o problema de uma categoria pequena, olhando-se do ponto de vista exclusivamente quantitativo de uma instituição interiorana, não obstante ser ela a 15ª melhor universidade do país.

Se o problema não foi gerado pela simples volta ao cargo do mesmo Secretário de Ciência e Tecnologia, que anteriormente havia se negado até a nos receber – em contraste com o empenho do Secretário Interino, Prof. Luiz Edmundo Horta, que até a uma reunião do Conselho Universitário da UENF compareceu na tentativa de mediar o conflito –, então, estamos diante de uma crise que em nada abrilhantará a fácil reeleição do Governador Sérgio Cabral. Infelizmente, a probabilidade maior é mesmo essa, vide o silêncio do titular da SEPLAG, homem forte do governo estadual, que antes demonstrara genuína preocupação e empenho em solucionar os graves problemas criados pelo arrocho salarial dos servidores da UENF e agora não responde aos nossos numerosos pedidos de audiência, ignorando inclusive o fato de que assumiu, diante de nós, compromisso neste sentido.

Estaríamos, nesse caso, diante de uma verdadeira reversão de expectativas antes mesmo do segundo mandato do Governador ter início, o que seria uma proeza negativa a se registrar. O que está em jogo não é só a imagem do governo que pretende revolucionar a educação no estado – diga-se de passagem, sem deixar claro como isso se articula à produção da inovação e do conhecimento produzidos na Universidade –, mas também do governo promotor de políticas públicas consistentes. O descaso com a UENF e o ensino público superior de qualidade no interior do Estado – sobre o qual o programa de governo é omisso – ocorre em sincronia com a crescente deterioração dos níveis de segurança no estado, onde o crime organizado, desalojado de seus territórios na capital, migra intacto, sob a complacência das autoridades governamentais, para a periferia metropolitana e as cidades do interior.

A possível retomada de nossa greve no próximo dia 22/11, caso não obtenhamos a volta das negociações com propostas concretas de revalorização salarial, após 10 anos de perdas inflacionárias não repostas, pode ser a fagulha a iniciar o processo de combustão do capital eleitoral recentemente amealhado, em meio ao mal-estar das omissões ou soluções superficiais feitas sob medida para alimentar popularidade e angariar votos sem resolver graves problemas.

Oxalá estejamos errados e tudo não passe de um problema ocasional em função dos rearranjos que ocorrem toda vez que há uma alternância nos ocupantes dos cargos dentro do poder executivo. Mas se assim não for, então, o que presenciaremos será um aprofundamento da desconfiança reinante no interior da UENF em relação aos reais compromissos do Governo Cabral com a manutenção do modelo institucional idealizado por Darcy Ribeiro, cujos frutos são persistentemente celebrados por este mesmo governo.

Campos, 13 de novembro de 2010.

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