Trabalhadores da Uerj e Uenf lotam a Alerj
Pouco mais de oito da manhã e os servidores já começavam a se mobilizar. Alguns vinham, ansiosos, direto ao Sintuperj, outros já esperavam no portão principal pelo ônibus e ainda havia aqueles que ainda panfletavam e convocavam os colegas de trabalho. Foi nesse clima de mobilização que cerca de 100 servidores saíram da Uerj para participar da audiência pública desta quarta-feira, dia 19, na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). Com o tema Situação salarial e condições de trabalho nas universidades públicas estaduais, a audiência teve o objetivo de pressionar o Legislativo pela abertura de um canal de diálogo com o governador do Estado, Sérgio Cabral. Inicialmente, o debate seria realizado na sala das comissões que tem capacidade para no máximo 50 pessoas e, imediatamente, a audiência foi transferida para o plenário da Câmara. Os deputados Comte Bittencourt (PPS), Alessandro Molon (PT); Marcelo Freixo (PSOL) e Paulo Ramos (PDT), que compõem a Comissão de Educação, marcaram presença e se mostraram solidários à luta dos trabalhadores.
“Sucatear e privatizar. Entra e sai reitor, as regras não mudam. Parece que esta é a cartilha do governo que os reitores insistem em seguir”, afirmou o presidente da Associação dos Docentes da Uenf (Aduenf), Marcos Pedlowski. Este foi o consenso geral entre os trabalhadores que já não aguentam mais tanto abandono, descaso e precarização nas universidades estaduais. Indignados, os servidores marcaram presença no Parlamento e nas ruas do Rio de Janeiro. De acordo com o coordenador geral do Sintuperj, José Arnaldo Gama, o prazo final para tentar arrancar o reajuste do governo é até junho. “Cabral diz que não tem dinheiro, mas o Estado gasta apenas 36% de seu orçamento em despesas de pessoal, ou seja, há margem para reivindicarmos nossos direitos”, acentuou.
Uma andorinha só não faz verão: mobilização já!
“A união faz a força e vamos mostrar nossa mobilização forte para eles”, garantiu o servidor da Prefeitura do Campus da Uenf, Daniel Pedra Soares, que citou problemas na manutenção, inúmeras terceirizações e falta de funcionários. De acordo com Daniel, hoje, a Uenf conta com uma alta defasagem de funcionários estatutários, o que resulta em um grande processo de precarização e esvaziamento do quadro funcional.
Izáqui Oliveira, servidor há 26 anos do CTI Cardíaco do Hupe, acredita que unidade é fundamental para abrir um canal de diálogo. “Vamos mostrar que juntos somos fortes. Vivemos problemas imediatos com a falta de concurso público, de estrutura, de planta física térrea”, afirmou. Nesse ponto, o coordenador geral do Sintuperj, Jorge “Gaúcho” foi enfático ao se dirigir à bancada do plenário da Alerj e denunciou. “Se vocês acham que a situação nas universidades está ruim, podem acreditar que a situação é muito pior. Quando nos referimos ao Hupe, à falta de equipamentos e condições de trabalho no hospital, precisamos considerar que pessoas morrem mais facilmente. Isso é responsabilidade do governo que não faz nada para recompor nosso quadro de funcionário; reajustar nossos salários”, ele questionou.
Os estudantes também estiveram presentes e a conselheira discente, Caroline Castro, acredita que estar na Alerj é mais um passo rumo aos avanços e explica a importância do envolvimento de toda a comunidade universitária nesta luta. “A campanha salarial perpassa pela qualidade da universidade e faz parte de um projeto maior”, ratificou.
Autonomia universitária: direito da universidade e da sociedade
“Os prédios caem por falta de verbas, nossos salários estão corroídos”, delatou Pedro Brasil, diretor executivo do Sintuperj e trabalhador da Uenf. As denúncias no plenário da Alerj e os depoimentos dos trabalhadores representaram a política deste reitor completamente alinhada à política do governo de Sérgio Cabral, ou seja, o completo DESFINANCIAMENTO da universidade. E, por isso, a falta de verbas e investimento. “A ordem é destruir e precarizar os direitos trabalhistas. É impressionante como o governo trata o movimento sindical como inimigo, já que, até hoje, nenhum governo quis sentar conosco para tratar sobre as universidades”, declarou a presidente da Asduerj, Cleier Marcosin que lembrou do Plano de Carreira Docente (PCD) elaborado pelo reitor e por Cabral que quebrou a isonomia dos técnico-administrativos. “Esta é a primeira audiência pública desta campanha unificada histórica do movimento dos trabalhadores desta universidade. É muito importante a unidade dos trabalhadores das universidades estaduais neste momento de sucateamento do serviço público”, acrescentou Cleier.
“É inaceitável o atual quadro de pessoal da Uerj. Para ter um bom funcionamento, precisaríamos de 6 mil funcionários e, hoje, temos apenas 2 mil. Inclusive, nós entregamos um dossiê a todos os deputados da Comissão de Educação com denúncias sérias sobre as atuais condições de trabalho e infraestrutura vividas em nossa universidade”, declarou José Arnaldo Gama.
Luís Passone, representante da Aduenf reforçou que autonomia financeira é um instrumento importante para planejar a expansão da universidade e o próprio orçamento. Diante deste debate, o deputado estadual, Alessandro Molon (PT), propôs uma ida ao Supremo Tribunal Federal (STF) de modo a pressionar pela garantia da autonomia às universidades do Rio de Janeiro. “Não podemos depender da boa vontade do governador. Vamos à Brasília procurar os ministros e pressionar pela autonomia universitária”, sugeriu Molon.
Onde está o reitor?
Mais uma vez, o reitor da Uerj, Ricardo Vieiralves, não compareceu a esta importante audiência sobre a nossa situação salarial e condições de trabalho. Seguindo os mesmos passos ou até mesmo a mesma cartilha, o reitor da Uenf, Almy Junior, também não compareceu. Ironicamente, os trabalhadores caracterizaram um boneco e apontaram em uma placa: “Malfeitor da Uerj”.
O deputado estadual, Paulo Ramos (PDT), provocou: “Afinal, o reitor representa o governo ou a universidade? Onde estão os reitores da Uerj e da Uenf?”. Vale lembrar que Vieiralves assinou um termo de compromisso com a Uerj, mesma ocasião que Cabral declarou que a Uerj era a joia da coroa deste governo. Qual o projeto de Uerj deles? Certamente, não é o nosso projeto: o projeto dos trabalhadores. O deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) fez questão de afirmar: “Não é falta de agenda, porque o reitor tem tempo para atender, por exemplo, o DCE da Uerj, os setores imobiliários e o próprio governador. O que concluímos é que se trata de prioridade política e eles não priorizam os trabalhadores”, afirmou Freixo.
Emergência no CAP
Operando com apenas 50% do quadro de pessoal, incluindo docentes, bibliotecas abandonadas, cantina sem estrutura. Esta é a situação do Colégio de Aplicação da Uerj denunciada pelo representante da Associação de Pais e Professores (APP), Jerônimo. “Temos uma política de governo clara, mas não temos uma política de Estado. Falta projeto. No CAP, a situação é dramática, parte dos professores estão abandonando as turmas, as condições da infraestrutura são as piores possíveis e os pais vêm denunciando frequentemente. Nós somos solidários ao movimento dos trabalhadores porque acreditamos no ensino público, gratuito e de qualidade”, disse Jerônimo.
Propostas Aprovadas
A Comissão de Educação apresentou duas propostas que foram recebidas com entusiasmo pelos trabalhadores. Uma delas diz respeito à realização de uma audiência pública para tratar da atual situação vivida pelo Colégio de Aplicação da Uerj (CAp) para o próximo dia 02 de junho. Outra proposta, foi a criação de uma comissão da Frente Parlamentar em Defesa das Universidades Públicas para ir, em caravana com os trabalhadores, a Brasília. O objetivo é conseguir uma audiência com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) para discutir a Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) movida por Sérgio Cabral para congelar o repasse dos 6% da Receita Tributária Líquida à Uerj. Outra proposta aprovada foi a apresentação de emendas, por parte das entidades sindicais da Uerj e Uenf, à Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2011.
Fonte: http://www.sintuperj.org.br/portal/pg_materia.asp?id=493