UERJ e UENF: Sindicatos saem da ALERJ com propostas
Alessandra Novaes - alessandra.novaes@folhadirigida.com.br
Encaminhar pedidos de audiência com o presidente da Assembléia Legislativa (Alerj), deputado Jorge Picciani (PMDB), com os líderes do governo na Casa; fazer atos públicos; e ainda planejar uma ida em caravana a Brasília, para pedir ajuda ao Supremo Tribunal Federal (STF) para o cumprimento do repasse dos 6% da receita líquida do estado para as universidades estaduais e para a obtenção da autonomia universitária, especialmente na questão financeira. Essas foram as propostas tiradas da primeira audiência pública na Comissão de Educação da Alerj, após a unificação da luta pela recomposição salarial de docentes e funcionários das Universidades do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e Estadual do Norte Fluminense (Uenf).
Os novos encontros e intermediação com o governo foram sugestões do presidente da comissão, deputado Comte Bittencourt (PPS), os atos públicos foram propostos pelo deputado Paulo Ramos (PDT), e a ida a Brasília, idéia do deputado Alessandro Molon (PT). A reunião que, marcou o apoio definitivo da comissão à causa dos trabalhadores, contou também com a presença dos deputados Marcelo Freixo (PSol) e Rodrigo Dantas (DEM), todos favoráveis às reivindicações.
Lotando a sala destinada para a audiência, ela teve que ser transferida para o Plenário da Casa. Com o objetivo principal de buscar apoio para as duas principais reivindicações das universidades, recomposição salarial de 82% e melhoria das condições de trabalho, a audiência foi uma iniciativa de três entidades sindicais ligadas às universidades: Associação de Docentes da Uerj (Asduerj), Associação de Docentes da Uenf (Aduenf) e Sindicato dos Trabalhadores das Universidades Públicas Estaduais (Sintuperj). As entidades prepararam dossiês com o detalhamento da questão salarial e fotos dos problemas físicos das universidades e entregaram aos deputados que compõem a comissão. As propostas diferenciadas, apresentadas pelos deputados, surgiram das visões que os sindicatos possuem do assunto. Para o deputado Comte Bittencourt, a intenção da comissão é sempre propositiva. "Queremos ajudar a intermediar a negociação com o governo, se está difícil o diálogo entre eles, e sugerir formas de solucionar problemas", afirmou o parlamentar.
O deputado Paulo Ramos polemizou ao perguntar de que lado estariam os reitores das duas universidades. "Onde estão os reitores, do lado das universidades ou do governo?", alfinetou ele, acrescentando que acredita que os trabalhadores da Uerj e da Uenf "estão consumindo energia com quem já demonstrou que não tem qualquer compromisso com universidades e servidores", apontou, referindo-se claramente ao governador do estado, Sergio Cabral.
O deputado Marcelo Freixo (PSol) aprovou a unificação da luta. "É fundamental e extremamente importante, e independe da vontade dos reitores", destacou. Freixo disse também que considera que o que está em questão no caso das universidades é a forma de ver e tratar a universidade. "A concepção de conhecimento adotada não valoriza a produção da inteligência. Tanto que o orçamento tem sido reduzido para as universidades. Nada é por acaso", salientou. Ele foi apoiado, em parte, pelo deputado Alessandro Molon que também acredita que, embora a luta salarial seja justa, é preciso olhar a questão de forma mais ampla. "A ida ao STF deve ter foco na defesa da autonomia universitária, para que tenham verbas previsíveis e, internamente, possa discutir a destinação. Se fizerem a caravana, podem contar com minha presença", afirmou.
Para sindicalistas, audiência teve objetivo alcançado
Antes de irem em passeata em direção à Secretaria de Planejamento, onde até o fechamento da edição não haviam sido recebidos, os sindicalistas das três entidades consideraram positivo o encontro com os parlamentares. Asduerj, Aduenf e Sintuperj acreditam que, com o apoio da comissão, terão mais um mediador para conseguirem efetivar as negociações com o governo do estado do Rio. "Nos últimos anos, não temos conseguido conversar com os sucessivos governos. Quando nos recebem, os representantes, muitas vezes, nos tratam com desrespeito e sarcasmo", acusou a professora Cleier Marconsin, presidente da Asduerj, dizendo que na Alerj encontraram o espaço para debaterem suas questões. A docente da Faculdade de Serviço Social afirmou ainda que não vê sentido no argumento do governo Cabral em associar melhorias salariais à recuperação dos royalties do petróleo. "Nunca ganhamos baseados em royalties, por que seria agora?", questionou. Embora solicitem a recomposição salarial de 82%, as duas associações docentes, da Uerj e da Uenf, afirmaram durante a reunião que seus índices de defasagem já ultrapassam este montante. A professora Cleier, da Asduerj, apontou que em janeiro de 2010, a defasagem salarial já atingiu 83,25%, enquanto o professor Marcos Pedlowski, presidente da Aduenf, afirmou que as perdas já somam 89,75%. Outro ponto importante levantado pelas duas entidades foi a perda de docentes, que prestam concursos e migram para outras universidades onde podem ter melhor remuneração. A presidente da Asduerj afirmou que, em dois anos, 44 professores, muitos deles doutores, deixaram a universidade. "A Uerj tem, segundo dados oficiais, 2.132 professores e 3.900 técnicos", contou a professora, que acredita que deveria haver cerca de seis mil docentes. O professor Pedlowski apresentou uma situação ainda mais dramática. Segundo ele, a Uenf perdeu, nos mesmos dois anos, cerca de 30% de seus docentes, em um total de apenas 300. "E as vagas liberadas em concursos não repõem sequer aqueles que saíram naquele ano. Tememos que, no futuro, cursos fechem por falta de professores", comentou. Ele considerou que o maior ganho deste encontro foi a abertura de diálogo com a Alerj e ainda a intenção dos parlamentares de conseguirem um encontro com o governador. As duas associações também criticaram os projetos de expansão apresentados pelas universidades. Embora considerem tais medidas importantes, não veem como elas possam ser eficientes sem que seja realizada previamente uma melhoria nas estruturas das universidades.
Para José Arnaldo Gama, um dos coordenadores-gerais do Sintuperj, que representa os funcionários técnico-administrativos das duas universidades, a audiência foi mais uma etapa vencida na luta por melhores salários. "Junho é o prazo máximo para tentarmos arrancar do governador esse reconhecimento e valorização. Apesar de ainda não termos conseguido, queremos convencer o governador que as universidades são importantes para o estado", destacou.
Lembrando, durante a audiência, que ao ser empossado chanceler da Uerj, o governador disse que esta seria "a jóia da sua coroa", Arnaldo salientou que o tratamento recebido pelas estaduais não é condizente com a afirmação. Ele também achou importante a proposta do deputado Alessandro Molon. "Fazermos juntos uma caravana ao STF com os parlamentares é fundamental. Vamos tentar fazer isso até a primeira quinzena de junho. Encontrar, para o estado do Rio, um mecanismo permanente de financiamento para as universidades é importante para suas estruturas", afirmou o sindicalista. Ele lembrou que, no dia 8 de junho, será feita mais uma assembléia conjunta da Uerj e Uenf, em Campos dos Goytacazes.
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